NAS ‘VILAS MISERÁVEIS’ DA CAPITAL ARGENTINA.
BUENOS AIRES — O GPS mostra um triângulo roxo,
quando o carro se aproxima da Villa 21, de Buenos Aires, e adverte de que se
está em uma zona de perigo. As vilas “miseráveis” são o local preferido dos
viciados ao paco, a pasta base de cocaína, talvez a droga mais destrutiva.
Há dezenas delas espalhadas pela Argentina, cheias
de moradores já acostumados com o descaso do governo. São sinônimos de
abandono, droga e violência. E, no entanto, a maioria de seus habitantes são
trabalhadores humildes, muitas vezes imigrantes vindos do Peru, Paraguai,
Bolívia... Faxineiras, pedreiros, carpinteiros e garçons obrigados às vezes a
esconder das pessoas onde vivem.
- Quem vive aqui tem que buscar um amigo na cidade,
para quando tenha que procurar emprego, passar o endereço de lá. Porque quando
descobrem que moramos aqui, não nos contratam - explica Heredia, de 32 anos,
morador de Villa 21.
Na 21-24 somente multas e mandados judiciais chegam
às casas; o resto do correio tem que ser buscado em uma oficina municipal. Em
todas as esquinas agentes da Prefeitura, uma polícia militarizada faz a
patrulha. Até poucos meses, a vigilância se limitava a costas e fronteiras.
- Com eles estamos muito mais tranquilos e se vê
menos delinquência. A polícia que estava aqui antes era cúmplice do negócio da
droga - complementa Heredia.
De acordo com um censo de 2010, 164 mil pessoas
vivem nas vilas da capital. Silvina Premat, autora do livro “Curas villeros”
explica que as vilas apareceram em Buenos Aires a partir da crise de 1930.
- Era gente muito pobre, vivendo ao ar livre. Em 1993
já se formavam os bairros. E os padres começaram a ver que não as pessoas não
iam à igreja e começaram a criar capelas ali. E viram que as pessoas não tinham
água, nem luz, nem gás e começaram a solucionar os problemas. Até 2009 não
havia presença do Estado nas vilas. Agora, as coisas mudaram um pouco, porque
existe algum policiamento.
- A vila também tem muito que ensinar à cidade.
Isso era um depósito de lixo e os vizinhos o converteram em um bairro. Aqui
temos um sentido maior de vizinhança, de solidariedade, que não se encontram em
muitos lugares.
fonte: O Globo
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