10 MIL NOVOS MOSQUITOS DA DENGUE.
RIO -
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vão liberar na natureza
mosquitos Aedes aegypti que não transmitem o vírus da dengue. O primeiro teste
será em Tubiacanga, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro,
nesta última quarta-feira, 24. É a primeira vez que essa estratégia é testada no
continente americano - já há pesquisas em andamento na Austrália, no Vietnã e
na Indonésia.
Os ovos
dos mosquitos foram contaminados com a bactéria Wolbachia, encontrada em 60%
dos insetos, como as drosófilas (pequenas moscas) e os pernilongos. Essa
bactéria atua como uma espécie de vacina para o Aedes aegypti - ela impede que
o vírus da dengue se multiplique no organismo do mosquito, que deixa, assim, de
transmitir a doença.
A
Wolbachia também atua na reprodução dos insetos. Se o macho contaminado
fertilizar ovos de fêmeas que não tenham a bactéria, esses ovos não darão
origem às larvas. Se macho e fêmea estiverem contaminados, ou se só a fêmea
tiver a bactéria, toda a prole carregará a Wolbachia.
A
bactéria é transmitida naturalmente para as gerações seguintes de mosquitos e o
método se torna autossustentável: Aedes com Wolbachia acabam se tornando
predominantes na natureza, sem que os pesquisadores precisem liberar insetos
contaminados constantemente. Em localidades da Austrália, isso aconteceu em 10
semanas, em média.
A
pesquisa com a Wolbachia começou na Universidade de Monash, na Austrália, em
2008. Inicialmente, os cientistas esperavam que a bactéria reduzisse o tempo de
vida do Aedes, mas descobriram que ela também afeta a reprodução e bloqueia a
multiplicação do vírus.
"Estamos
diante de uma estratégia científica inovadora e segura, que poderá contribuir
para o controle da dengue e para a melhoria da saúde da população",
afirmou o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, líder do projeto no Brasil.
Ele integrava a equipe de cientistas que fez as descobertas na Austrália.
A
Wolbachia é uma bactéria intracelular, que só pode ser transmitida de mãe para
filho, no processo de reprodução dos mosquitos. Além disso, é maior que o canal
salivar do mosquito. Ou seja, não sai pela saliva, meio pelo qual o homem é
contaminado. Para garantir que não infecta seres humanos e animais domésticos,
durante cinco anos, integrantes da equipe, na Austrália, alimentaram uma
colônia de mosquitos com Wolbachia, usando seus próprios braços.
O
projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil foi lançado no Rio de Janeiro, em 2012.
Nesses dois anos, os pesquisadores capturaram Aedes aegypti nos locais que
servirão de testes, estudaram essas regiões e criaram os mosquitos contaminados
em laboratório. Depois de lançados em Tubiacanga, os cientistas poderão avaliar
a capacidade dos mosquitos com a bactéria se estabelecerem no meio ambiente e
se reproduzirem com os mosquitos locais.
Cerca de
10 mil insetos serão liberados semanalmente em Tubiacanga, por até quatro
meses. Para reduzir o incômodo da população, a Secretaria Municipal de Saúde
fez uma campanha para eliminar focos de criação do mosquito.
Depois
da Ilha do Governador, os bairros da Urca e Vila Valqueire, no Rio de Janeiro,
e de Jurujuba, em Niterói, receberão os mosquitos. Estudos de larga escala para
avaliar o efeito da estratégia estão previstos para ocorrer a partir de 2016.
fonte: Fiocruz
fonte: Fiocruz
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