JOGADOR LUTA CONTRA CÂNCER NO CÉREBRO.
O lateral esquerdo Aldivan Alves Soares tem 36
anos, uma mulher, dois filhos e um câncer no cérebro. O jogador passou toda sua
carreira em clubes de pequena ou média expressão das regiões Norte e Nordeste, por
isso a pouca notoriedade do atleta.
A única vez em que o atleta maranhense ganhou o
protagonismo das notícias na imprensa nacional aconteceu no início deste ano,
quando foi covardemente agredido com uma barra de ferro durante um jogo de
futebol. Horas depois, contra todas as previsões, perdoou seu agressor e
desistiu de prestar queixa contra ele, sensibilizado com a possibilidade de
prejudicar a carreira do colega de profissão
Neste exato momento, porém, Aldivan vive em estado
de coma, incomunicável, no leito de um hospital de arquitetura colonial em um
bairro nobre de Belém, cidade que o adotou e onde ele viu sua carreira deslanchar.
Em torno de si, sem saber, mobilizou uma corrente
de solidariedade e orações entre jogadores, técnicos, cartolas e torcedores.
Isso começou há menos de um mês, quando a metade direita do rosto moreno de
Aldivan simplesmente parou de funcionar.
Foi um daqueles sinais que o corpo dá e a gente não
entende. Foi também muito rápido, sem sentido, e a mulher dele, Rosalete
Soares, até hoje se pergunta ‘por quê?’.
No dia em que descobriu que tinha um problema
grave, Aldivan fez tudo normal: acordou, almoçou com a família e horas depois
reclamou da estranha sensação de que uma parte de seu rosto estava
completamente insensível.
Não deu tempo de tentar entender isso porque logo
depois veio a convulsão: espasmos de dor e lapsos de consciência.
Ele não tinha um plano de saúde privado para si (o
pagava apenas para a família, já que, sendo um jogador de futebol, sempre teve
seus tratamentos bancados pelos clubes por onde passou). Aldivan, então, foi
levado às pressas a um hospital público de Belém.
Os médicos cogitaram inicialmente se tratar de um
caso de acidente vascular cerebral. Mas sua única certeza era a de que o
pronto-socorro municipal não era especializado o suficiente para cuidar de
lesões no órgão mais complexo do corpo humano.
JOGO DA VIDA
Foi aí que surgiu na história o ex-jogador de
futebol Vandick Lima, ídolo do Paysandu, um dos clubes pelos quais Aldivan
passou nos últimos anos. Vandick, atualmente vereador em Belém, conseguiu um
leito no hospital onde hoje o atleta vive seu pior jogo da vida.
O tumor maligno que apareceu na cabeça do atleta é
um amontoado de células que se multiplicam rápida e descontroladamente e
prejudicam o que estiver em volta. Por isso ter acontecido em uma região
ultrassensível, os médicos receiam fazer intervenções cirúrgicas que possam
trazer seqüelas ao jogador.
“A situação é complicada. Estamos com este quadro
grave e estável. Vamos fazer o possível para recuperá-lo, mas todo cuidado é
pouco, pois é um tumor muito invasivo”, explicou o médico Héder Souza em nota à
imprensa.
Quando o câncer se manifestou, Aldivan acabara de
encerrar seu contrato com o Clube do Remo e estava negociando para jogar no São
Raimundo, de Santarém, na próxima temporada. Com a bola nos pés, ele joga como
se reconhecesse que não é um craque. Tem características mais ofensivas e a
fama de deixar a retaguarda de sua equipe desguarnecida.
Entre a torcida do Paysandu, é lembrado por sempre
tê-la tratado com simpatia. Um dia, conta-se, ele pagou do próprio bolso
ingresso para um torcedor que não tinha condição de comprá-lo.
“Ele nunca agrediu ninguém, nem verbalmente, nem
fisicamente, jogou nos dois rivais de Belém e as duas torcidas o respeitam como
a nenhum outro”, disse o médico Gilson Mácola, do Paysandu. “Ele precisa
sobreviver pra mostrar que no mundo ainda existem pessoas de bom caráter como
ele.”
Adriano
Wilkson
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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