FERREIRA GULLAR NO LUGAR CERTO.
Por votação quase unânime, a Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu ontem (9) o poeta Ferreira Gullar para a cadeira 37 da Casa, vazia desde 3 de julho, com a morte do poeta e tradutor Ivan Junqueira. Gullar recebeu 36 dos 47 possíveis e foi eleito em primeiro escrutínio. Um voto foi em branco. Votaram 18 acadêmicos presentes e 18 por cartas. Estavam presentes 19 acadêmicos; outros 18 votaram por carta.
Em sua posse, Gullar deve ser recebido por Antônio Carlos Secchin, que liderou a campanha por sua eleição. Secchin deixou a sala onde aconteceu a cerimônia radiante. “Ele não precisava de ninguém para alavancá-lo, mas, como tenho prática da casa, tentei viabilizar certas coisas administrativas, dei sugestões a ele, falei com acadêmicos para articular a coleta de cartas caso alguém não estivesse presente”, disse o acadêmico e amigo. Após a eleição, haverá uma recepção para Gullar.
SUA
HISTÓRIA
O
maranhense Ferreira Gullar, nascido em São Luís, em 10 de setembro 1930, em uma
família de classe média pobre, cujo verdadeiro nome é José de Ribamar Ferreira,
é o terceiro poeta a ocupar sucessivamente a cadeira 37. Antes de Ivan
Junqueira, ela pertenceu ao pernambucano João Cabral de Melo Neto. Passou a infância
entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga. Aos 18
anos, começou a frequentar os meios literários da capital maranhense. Um ano
mais tarde descobriu a poesia moderna, ao ler os poemas de Carlos Drummond de
Andrade e Manuel Bandeira.
Mudou-se para o Rio em 1951, onde participou da fase inicial
do movimento concretista ao lado dos poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos
e Décio Pignatari. Rompeu com o movimento em 1957 por considerá-lo
excessivamente racional. Gullar defendia mais subjetividade, o que resultou na
fundação do movimento neoconcreto.
A partir da década de 1960 a obra de Gullar passou a
refletir seu engajamento político. Com o AI-5, Gullar foi preso e passou a
viver no exílio a partir de 1971. É dessa época seu livro mais conhecido,
“Poema Sujo” (1976).
Após
afastar-se do movimento neoconcreto, Gullar aderiu à luta política
revolucionária, nos anos que antecederam e que se seguiram ao golpe militar de
1964. Membro do Partido Comunista Brasileiro, foi processado e preso na
Vila Militar. Mais tarde, teve de abandonar a vida legal. Passou à
clandestinidade e, depois, ao exílio.
Durante o exílio em Buenos Aires, escreveu Poema Sujo, poema
de quase 100 páginas, avaliado como sua principal obra. Traduzido e publicado
em várias línguas e países, Poema Sujo foi
determinante para a volta do poeta ao Brasil. Quando retornou, em 1977, foi preso e torturado. Libertado por
pressão internacional, retomou seu trabalho na imprensa do Rio de Janeiro e,
como roteirista, na televisão.
Em 2002, Ferreira Gullar foi indicado para o Prêmio Nobel de
Literatura. Em 2010, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante para autores de
língua portuguesa. Instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o
Camões é concedido anualmente a autores que tenham contribuído para o
enriquecimento patrimônio literário e cultural
do idioma. A edição completa de seus poemas, “Toda Poesia”, foi
publicada em 1980. Gullar recebeu diversos prêmios ao longo da vida, entre eles
o Prêmio Camões, em 2010.
Os acadêmicos aguardam com ansiedade o discurso de Gullar.
Alberto Venancio, imortal e estudioso da história das eleições da Academia, diz
que a cadeira 37 é conhecida por excelentes discursos de posse.
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